
Um elemento basilar ao Homem enquanto ser social é, sem dúvida, a comunicação que uma linguagem verbal codificada permite encetar com os seus semelhantes. É notável a complexidade da relação interpessoal que os humanos edificam através do referido código; em certas ocasiões atinge um tal nível de complexidade que chega a proporcionar uma comunicação bem sucedida, mesmo que desprovida de léxico apropriado.
Uma prova dos factos apresentados é uma situação insólita que eu próprio presenciei durante um diálogo bizarro protagonizado por um desconhecido segurança de uma empresa privada e um par de amigos meus. Um pouco antes de ocorrer a surpreendente e reveladora constatação, eu e os meus amigos caminhávamos pela rua acompanhados por uma interessante e agradável conversa. A determinada altura deparamo-nos com o trajecto parcialmente obstruido. Entretanto, nesse mesmo instante, percebemos que alguém mais distante vociferou a frase "Está tudo bem?". O vigor empregue na citada verbalização foi suficiente para desviar a nossa atenção para o emissor da mesma - o desconhecido segurança privado.
Logo alí senti uma inédita surpresa. Primeiro, porque não esperava que um desconhecido nos abordasse na ânsia de se certificar acerca da nossa saúde ou qualidade de vida. Depois, porque não raras vezes os seguranças privados são tidos como seres de parcas palavras, muita acção e portadores de uma frieza peculiar capaz de os elevar ao pódio em diversos domínios, mormente o da insensibilidade. Naturalmente que ainda mais me espantou toda a fraternidade que aquela pessoa nos dirigia. Afinal de contas, não deixa de ser uma prova de que a criação de estereótipos na sociedade não é confiável nem de sobeja probidade.
Confesso que, apesar de todo o despropósito, no instante em que o segurança nos interpelou com a célebre frase, "Está tudo bem?", de imediato pensei que aquele casaco bordeaux e calças pretas de fazenda eram transportados por um ser humano sensível, carinhoso e simpático. Talvez ele quisesse apenas uma pitada de conversa, ou fazer alguns amigos, ou afastar a solidão! Mesmo assim, não me senti suficientemente confortável para parar e dedicar um pouco da minha atenção a um desconhecido. Achei que seria bastante retribuir com simpatia e delicadeza respondendo à pergunta do segurança enquanto seguia caminho. Quando me preparava para responder, um dos meus amigos pára e antecipa-se com as seguintes palavras dirigidas ao segurança - "Ah! Não podemos passar por aqui? Vamos por onde?". O segurança celeremente ergueu o braço e estendeu o indicador para indicar uma trajectória. E deste modo terminou aquele invulgar diálogo! Nunca me tinha ocorrido que em determinadas circunstâncias quando seguranças abordam as pessoas com um "está tudo bem?" ou com "peço desculpa pelo incómodo mas não é possível atravessar por aí" pudesse veicular o mesmo significado. É ou não é interessante o mundo Animal?
Patente neste testemunho encontra-se a premência da compreensão de determinados códigos linguísticos para harmonia entre os Homens, entre os animais e entre o Homem e os animais .
Desde o sucedido, sinto que apurei o meu interesse pela estudo da comunicação. Imbuído em obstinação e fruto de enorme vontade em expandir o meu conhecimento nesta matéria, já reservei um espaço na minha agenda para uma visita ao Jardim Zoológico.